Mini Maker Faire

O único sítio onde o Inspector Gadget passava despercebido

São 100 os projetos que estão em exposição.
Não só para ver, mas também para experimentar. Durante três dias o Pavilhão do Conhecimento em Lisboa é o quartel-general dos inventores e criadores portugueses.Possivelmente nem todos os leitores sabem quem é o Inspector Gadget. A Wikipédia pode ajudar, mas fica aqui uma breve descrição: era uma série de desenhos animados que tinha como personagem principal um detetive que apesar de desastrado, estava apetrechado com um grande número de engenhocas. Um chapéu que era um helicóptero ou um dedo que rapidamente passava a ser uma chave de fenda.

Se fosse real e se estivesse hoje, 20 de setembro, no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa, o mirabolante Inspector Gadget ia ser apenas mais um. Mais um elemento que estava rodeado de invenções tecnológicas e criações eletrónicas. Apenas mais um Sr. Engenhocas entre muitos outros.

Ao todo são cem os projetos que estão em exposição e em demonstração. O evento Lisbon Mini Maker Faire, o primeiro em Portugal, está a gerar um grande entusiasmo junto das pessoas. Até à manhã de hoje estava inscritos 7.000 visitantes, número que deverá continuar a aumentar nas próximas horas.

O TeK foi até ao evento mais geek do fim de semana e conta-lhe aqui a história e o conceito de alguns dos projetos que fazem parte da Maker Faire. O objetivo da organização é celebrar a comunidade de makers – os fazedores -, que em projetos de investigação ou nas horas vagas desenvolvem robots, sistemas de monitorização, entre outras criações.

Da tecnologia e da arte nasce uma flor
Chama-se Morfogénese Musical e é um projeto tão grande que não pôde vir até Lisboa. Mas quem passar pelo stand da FabLab – representando por alunos do ISCTE-IUL – vê a sua atenção atraída por uma flor robótica gigante que está representada num poster. “O que é isto?” é a pergunta que qualquer um fará perante a imagem. A Morfogénese Musical é um projeto desenvolvido com o apoio da Fundação Caloust Gulbenkian e que cruzou várias disciplinas – arte, robótica, mecânica, biologia, design, entre outras.

Os utilizadores podem e devem interagir com a flor e através desta experiência vão ficar a conhecer melhor como se desenvolve a planta. No fundo o projeto acaba por ser uma interpretação do que acontece a uma flor durante o seu desenvolvimento, como explicaram João Pedro Sousa e Maria João Oliveira.

Aos “humanos” cabe a tarefa de evitar que a planta sofra transformações e mutações devido à deficiente alimentação da mesma. Cumpra o “plano da Natureza” e sinta na primeira pessoa como desabrocha uma flor.

O projeto está em fase final de afinação e deve arrancar nos próximos meses por uma digressão no país. A Morfogénese Musical teve um investimento próximo aos 7.000 euros.

Poupe 11 litros de água por dia e ajude o ambiente
Um grupo de alunos da Escola Profissional de Rio Maior trouxe até Lisboa uma torneira inteligente. O projeto chama-se Intelligente Flow e permite uma poupança de 11 ou mais litros de água.

Sempre que uma pessoa vai tomar banho e liga a água, ela não sai quente ou à temperatura desejada logo de imediato. Enquanto o sistema regula a temperatura, está a haver um desperdício de água. E é justamente neste campo que a Intelligente Flow atua.

O sistema permite regular a temperatura e a pressão da água, mas não deixa que a mesma saia enquanto não estiver nos valores desejados pelos utilizadores. A água “inicial” é reencaminhada para um depósito, onde ficará até ser juntada depois ao fluxo de água já temperado.

O objetivo principal do projeto é de acordo com João Rodrigues ajudar o meio ambiente. Mas claro, os utilizadores conseguem fazer uma poupança. A cada duas utilizações de uma torneira é possível poupar 11 litros. Faça as contas e imagine quanta água pode salvar ao fim de um ano. A torneira inteligente ainda está em desenvolvimento, mas quando chegar ao mercado como produto final deverá ter um preço a rondar os 120 euros. Um investimento que a médio prazo começará a trazer retorno. Se houver empresas interessadas no conceito, os alunos e o professor coordenador, Cristóvão Oliveira, estão recetivos a parcerias.

Abram alas para o robot Zeca
Se na Mini Maker Faire der de caras com um humanoide, não se assuste. O mundo não está a ser invadido por máquinas, é apenas o robot Zeca. Criação de José Fernandes, a máquina foi desenvolvida durante um ano em regime de “part-time”.

Mas o esforço compensou: o robot consegue mover-se de forma autónoma, através de sensores, tal como acontece nos aspiradores inteligentes. E pode também ser comandado a distância.

Um olhar mais profissional sobre o robot Zeca até permitira dar-lhe a denominação de robot de protocolo. Tem incorporada uma Webcam que permite saber quem está “do outro lado”.

“Gosto de desenvolver coisas e quis aprender Arduino em termos de domótica”, explicou José Fernandes, que revelou ainda que tirando os elementos eletrónicos, fez todo o restante trabalho. Durante os próximos tempos a máquina vai continuar a ser aperfeiçoada e vai ganhar capacidade para interagir com as pessoas.

Flyeye: a evolução dos drones passa por Portugal
Os drones estão na moda, não há como o negar. Mas também é verdade que depois de algumas “voltas” com os equipamentos, muitos utilizadores acabam por desistir do novo gagdet. Não há muito mais a fazer além de vê-lo a voar.

Mas e se o drone pudesse ser algo mais, como um companheiro pessoal? É isso que os mentores do projeto Flyeye estão a fazer. Os ainda estudantes estão a desenvolver um módulo que pode ser aplicado a todos os drones e que os torna mais inteligentes. Com o novo dispositivo os quadricópteros serão capazes de seguir os seus donos de forma automática, sem ser necessário um comando ou um smartphone para o controlo.

No futuro o objetivo passa por migrar para uma plataforma de desenvolvimento que seja mais user friendly ao nível do hardware. “Da mesma maneira que se acrescenta um módulo a um PC, queremos criar produtos que acrescentem valor aos drones”, explicou José Nogueira.

O projeto de investigação tem condições para evoluir para algo mais, uma possibilidade que o próprio José Nogueira admite acontecer entre o final de 2015 e o início de 2016: tornar a Flyeye numa empresa e o conceito dos módulos num negócio.

A Internet das Coisas comprimida numa caixa
Chama-se SmartGate e é o mais recente projeto da empresa portuguesa Muzzley. A caixa, cúbica e transparente, concentra em si vários módulos de tecnologia que a tornam numa caixa-mágica – tem a capacidade de tornar inteligentes os equipamentos que não o são.

Através de tecnologia de infravermelhos e de rádiofrequência é possível, por exemplo, ensinar à caixa quais os comandos necessários para controlar o televisor. Depois pode guardar o controlador da TV e fazer toda a gestão a partir do smartphone. O mesmo vale para outros equipamentos e para dispositivos de gestão de rede elétrica.

O produto ainda está em desenvolvimento e o prototype maker da empresa, Paulo Adrião, prefere não avançar um preço sobre quanto poderá vir a custar. Mas garante que o objetivo é tornar o equipamento acessível às pessoas para que possam começar a entrar e a compreender a Internet das Coisas.

E muito mais para ver...
A Lisbon Mini Maker Faire vai estar aberta ao público, de forma gratuita, até ao final da tarde de domingo. Se não tiver planos para o fim de semana e se for um entusiasta das novas tecnologias, as que existem e as que ainda estão por vir, então a passagem pelo Pavilhão do Conhecimento é obrigatória.

Rui da Rocha Ferreira

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Publicado por: Tek