O que é o movimento QAnon, que está a ganhar cada vez mais apoiantes dentro e fora dos EUA?

Nasceu em outubro de 2017, na internet, alimentando a ideia de que Donald Trump é o salvador do mundo e está fazer uma campanha secreta com o objetivo de combater uma cabala de pedófilos e canibais, que, alegadamente, dirigem um círculo de tráfico sexual infantil. Agora, o Youtube decidiu remover os conteúdos ligados a esse movimento, já que incitam à violência e ao ódio. O Facebook já tinha anunciado que também o estava a fazer

O movimento QAnon nasceu em outubro de 2017, na internet, alimentando a ideia de que Donald Trump é o salvador do mundo e está fazer uma campanha secreta com o objetivo de combater uma cabala de pedófilos e canibais, que, alegadamente, dirigem um círculo de tráfico sexual infantil. Nesse complô, o movimento garante que estão incluídos vários democratas, celebridades de Hollywood, o milionário George Soros - que, juntamente com Barack Obama e Hillary Clinton, planearia um golpe de Estado - e Angela Merkel - segundo esta teoria, a chanceler alemã é neta de Adolf Hitler -, por exemplo.

O grupo coloca ainda o FBI como um incitador do terrorismo doméstico, sendo que, no ano passado, a própria agência definiu este movimento como uma potencial ameaça extremista doméstica.

Por detrás desta teoria da conspiração de extrema-direita e pró-Trump, existe um utilizador anónimo, que utiliza sempre a letra Q para se identificar e se autointitula um "oficial norte-americano". Este utilizador publica, há três anos, mensagens em código que revelam alegadas informações confidenciais sobre a suposta campanha secreta liderada pelo presidente dos EUA.

Esta sexta-feira, Trump afirmou, em entrevista À NBC, que não tem qualquer informação sobre este movimento, apesar de ter admitido que vários apoiantes do QAnon estiveram, já, presentes em alguns dos seus comícios e que concordava com algumas das suas ideias, incluindo o facto de serem completamente contra a pedofilia. Na verdade, desde o início da campanha que vários apoiantes de Donald Trump são vistos com bandeiras e camisolas onde o símbolo QAnon está bem representado.

Storm (Tempestade, em português) é o nome utilizado pelo movimento para designar uma ação militar iminente, em que milhares de pessoas pertencentes ao círculo de tráfico sexual serão presas e os militares dos EUA assumirão o controlo do país. A primeira publicação deste grupo, em outubro de 2017, apareceu no fórum da 4chan, com mensagens do utilizador anónimo Q que explicavam todas as teorias e informações do movimento, num tópico intitulado "Calm Before the Storm", uma referência a uma frase que Donald Trump tinha proferido semanas antes na Casa Branca, numa reunião com as chefias, para se discutir a questão dos programas nucleares da Coreia do Norte e do Irão.

Nessa altura, "Q" alegou ter informações de que Hillary Clinton seria presa em breve, por exemplo. E, apesar de isso nunca ter acontecido, as suas publicações começaram a ganhar muita popularidade, até se espalhadrem por toda a internet e serem disseminadas pelas redes sociais, de várias formas.

O QAnon vai além fronteiras

Neste momento, o QAnon está a ganhar cada vez mais apoiantes por toda a Europa. De acordo com um estudo realizado pelo Institute for Strategic Dialogue, em Londres, a pandemia atual deu um grande impulso a este movimento, sendo que, entre março e junho deste ano, houve um crescimento enorme de publicações de apoio ao QAnon: quase 175% no Facebook, 77,1% no Instagram e 63,7% no Twitter.

O Reino Unido é o país onde conteúdos relacionados com este movimento são mais partilhados, assim como onde as hashtags relacionadas com o grupo aparecem mais vezes, a seguir aos EUA.Depois, vem o Canadá, a Austrália e a Alemanha.

Nos últimos meses, defensores do QAnon misturaram-se com pessoas que contestam as medidas adotadas pelos países contra a covid-19 e que acreditam que o vírus é apenas uma invenção dos governos. Em vários países, surgiram protestos de ativistas anti-vacinas e de pessoas de extrema direita, que se fundiram com os seguidores do QAnon.

Agora, o Youtube anunciou que vai remover todos os conteúdos relacionados com o QAnon e outros que estejam a ser disseminados e usados como justificação para violência. A empresa referiu que pretende reforçar a aplicação das suas políticas contra ódio e assédio e revelou, na quinta-feira, que já tinha removido “dezenas de milhares de vídeos do QAnon e encerrado centenas de canais”. Também o Facebook tinha já anunciado, no início do mês, que iria restringir as ações deste movimento e eliminar grupos e contas de utilizadores associadas ao mesmo, que apoiam a violência e incitam ao discurso do ódio. O mesmo seria feito no Instagram.

Publicado por: Visão