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A jogada de Matteo Salvini pelo poder em Itália

Matteo Salvini aproveitou uma divergência no Parlamento para fazer a sua jogada pelo poder. As sondagens dão vantagem à Liga, mas no Parlamento os números não lhe são favoráveis.

A jogada de Matteo Salvini pelo poder em Itália

Depois de um noivado longo e tumultuoso, o casamento que permitiu a Itália formar Governo há apenas 14 meses está à beira do fim. Matteo Salvini, o polémico vice-primeiro-ministro e que tem a pasta da Administração Interna, quebrou a coligação e está a fazer a sua jogada pelo poder numa altura em que as sondagens dão vantagem à sua Liga Norte sobre o Movimento 5 Estrelas, mas a relação de forças no Parlamento é a inversa. A guerra está só a começar, e no horizonte está a extrema-direita e uma nova batalha com Bruxelas devido às regras orçamentais.

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A instabilidade política não é um sentimento novo para os italianos. Itália é, pelo menos entre as maiores economias da União Europeia, o país em que os governos duram menos tempo. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, Roma já teve 66 governos e vê agora mais um Executivo cair por desentendimentos entre as partes.

O noivado entre a Liga Norte, um partido mais colado à extrema-direita e com uma política anti-imigração declarada, com o Movimento 5 Estrelas (M5S), o partido anti-partidos do populista e comediante Beppe Grillo, foi sempre um acordo de conveniência com um equilíbrio de forças complexo. As posições radicais de Matteo Salvini, da Liga Norte, e de Luigi de Maio, do M5S, levaram o Presidente italiano a forçar uma alternativa para a liderança do Governo. Foi ai que entrou Giuseppe Conte, o atual primeiro-ministro, um independente com a difícil tarefa um Governo com Salvini e Di Maio como vice-primeiros-ministros.

As divisões foram sempre claras, mas o discurso populista e anti-imigração de Salvini, aliado ao seu perfil mais controverso, permitiram-lhe virar os resultados eleitorais a seu favor, e nas recentes eleições europeias conseguindo ultrapassar o M5S, que caiu substancialmente nas intenções de voto.

Neste cenário, Matteo Salvini aproveitou a oposição do partido de Di Maio à construção de uma ligação ferroviária de alta velocidade entre Turim, no Norte de Itália, e a cidade francesa de Lyon, e declarou a morte da coligação do Governo italiano. Com o Parlamento italiano de férias, Giuseppe Conte e Luigi Di Maio disseram que Salvini não decide quando é que existem crises políticas, mas Salvini obrigou os deputados italianos a voltarem de férias e forçou a marcação de uma moção de censura ao Governo italiano do qual faz parte.

As movimentações, a matemática

Hoje é o dia em que o Senado italiano vai decidir quando é que se irá realizar o voto da moção de censura ao Governo. Matteo Salvini e a sua Liga Norte querem eleições antecipadas porque estão a aproximar-se dos 40% nas intenções de voto, mas o M5S tem mais deputados e é o parceiro maioritário na coligação governamental, o que exige a Matteo Salvini alianças no Parlamento para conseguir derrubar o Governo.

Uma das alianças que Salvini está a tentar negociar é com o partido de Silvio Berlusconi, o histórico e polémico ex-primeiro-ministro italiano. Com pouca expressão nas sondagens e ainda menos deputados no Parlamento italiano, Berlusconi quer garantir que os seus deputados entram nas listas de Matteo Salvini de forma a conseguir mais força no Parlamento italiano.

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Matteo Salvini tem uma reunião marcada para esta tarde com Berlusconi para tentar garantir o apoio do Forza Italia na convocação de novas eleições, mas o partido de Berlusconi só tem atualmente 7% das intenções de voto.

O M5S de Luigi de Maio não quer eleições porque está em baixo nas sondagens (surge em terceiro lugar, apenas com 18%) e porque os seus estatutos impedem que os deputados se recandidatem depois de dois mandatos, e por isso pode chegar a um acordo com o Partido Democrático, de Matteo Renzi (que anunciou que irá formar um novo partido em breve).

A aliança entre os populistas do Movimento 5 Estrelas e o centro-esquerda não é, no entanto, um negócio fácil. O Partido Democrático está dividido sobre a possibilidade de fazer um acordo com os populistas, até porque já surge nas sondagens em segundo lugar com 23% das intenções de voto.

Se a moção de censura não for aprovada, Giuseppe Conte poderá continuar a liderar o Governo italiano, mas com uma coligação entre o M5S e o Partido Democrático. Caso não haja apoio suficiente, o Presidente Sergio Mattarella pode tentar promover uma solução que inclua um Governo de gestão com um primeiro-ministro proposto por si, como aconteceu no passado com Mario Monti e Enrico Letta, mas mesmo essa solução teria de ser aprovada no Parlamento italiano.

Enquanto as negociações continuam, Giuseppe Conte tem encontro marcado com o Parlamento italiano na próxima terça-feira para defender a continuidade do Governo.

Bruxelas na expectativa

Desde que o atual Governo italiano tomou posse que a relação com a Comissão Europeia e os restantes líderes europeus não tem sido fácil. Depois de intensas negociações sobre o Orçamento italiano, que motivou várias trocas de palavras duras em público, Itália acabou por ceder e adequar o seu Orçamento para que estivesse mais próximo do cumprimento das regras orçamentais europeias.

Quando saíram os primeiros dados que permitiram avaliar a execução das promessas feitas, a Comissão Europeia percebeu que Roma não estava a cumprir com o acordado e exigiu mais. O Governo italiano criticou a posição europeia, mas acabou por ceder (com muitas críticas de Matteo Salvini ao próprio Governo).

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Mas a postura de Itália nas negociações sobre os cargos de topo para a União Europeia criou ainda maior antagonismo. Apesar de ter uma postura pública mais conciliatória, Giuseppe Conte acabou por representar Itália na criação de uma força de bloqueio com os o Grupo de Visegrado — Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia — que impediu muitas das soluções colocadas em cima da mesa, em especial a nomeação praticamente fechada do socialista holandês Frans Timmermans como futuro presidenta da Comissão Europeia.

Itália acabou por apoiar a nomeação de Ursula von der Leyen, mas não sem a oposição pública de Matteo Salvini, que aproveitou mais uma divergência para distanciar-se dos restantes partidos da coligação governamental.

Com o atual cenário, caso o Governo caia, as eleições devem ser realizadas num período entre 60 a 70 dias, o que significa que o próximo Orçamento italiano pode chegar tarde e levar a um novo incumprimento das regras orçamentais. Itália já está sujeita a um Procedimento dos Défices Excessivos devido à elevada dívida pública e ao incumprimento do esforço de ajustamento estrutural anual. Se a situação se mantiver, a Comissão poderá avançar com a proposta de sanções financeiras ao país já na próxima primavera.

Publicado por: ECO

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