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Crianças coreanas aparecem como autoras de artigos científicos dos pais

O problema é tão sério que já desencadeou um inquérito governamental. Investigadores sul-coreanos estão a atribuir a co-autoria dos seus trabalhos aos filhos, pondo o nome das crianças como autores de publicações científicas.

O assunto foi revelado na revista Nature, em que se conta que foram detetados 82 artigos académicos com referência a filhos ou outros familiares, alguns deles a frequentar o ensino básico ou secundário, numa perícia coordenada pelo próprio ministro da Educação.

Por detrás da aldrabice está a pressão a que os estudantes se encontram sujeitos no momento da entrada para a universidade, imersos num sistema de educação altamente competitivo, que exige, desde cedo, um compromisso total por parte de toda a família.

Num artigo publicado no Herald Tribune, John M. Rodgers, que lecionou inglês na Coreia do Sul e edita a publicação Groove Korea, conta que naquele país se defende que para entrar na universidade um estudante não pode dormir mais de quatro horas por noite. Depois de um dia inteiro de aulas - que começa antes das 8 da manhã, com a limpeza da sala, e se prolonga até às 6 da tarde - os alunos do secundário permanecem na escola por mais quatro horas, a estudar, muitas vezes em pé, para combaterem o sono.

Os investigadores esperam assim que partilhar a autoria do trabalho científico com os filhos torne os seus currículos mais apetecíveis, dando-lhes vantagem na candidatura ao ensino superior.

Na perícia promovida pelo Governo, descobriram-se casos em 29 universidades coreanas. Em 39 dos artigos, os estudantes tinham tido alguma participação no trabalho de investigação, integrada no currículo escolar. Nos outros 43 casos, não foi encontrado qualquer contributo, avança o artigo da Nature.

Apesar de ainda não estar concluído o processo de averiguações, uma coisa ficou já definida: sempre que um autor for menor de idade, esta informação tem de constar no próprio artigo.

Os media sul-coreanos, que têm dado muita atenção ao tema, não hesitaram em classificar o caso como "fraude", pondo em causa a credibilidade dos estabelecimentos de ensino superior.

Publicado por: Visão